- Ciência
Somos seres de sangue quente e o calor que produzimos em nosso corpo, através da energia que extraímos dos alimentos, é essencial para vivermos. O que você talvez não saiba é que, em determinados momentos, ele pode atrapalhar a recuperação de alguma lesão que tenhamos sofrido. E é para evitar que isso aconteça que a medicina desenvolveu métodos terapêuticos para diminuir nossa temperatura, utilizando o frio como uma estratégia reparadora.
Não é de hoje que o contato com materiais gelados vem sendo usado com finalidades medicinais. Há mais de 4500 anos, os terapeutas egípcios já resfriavam locais do corpo para diminuir a dor e a inflamação. Romanos e Gregos também usavam o gelo e a neve por seus efeitos anti-inflamatórios no tratamento de muitos problemas de saúde.
E foi a partir da língua grega que se originou o nome para as práticas medicinais de resfriamento que usamos hoje. Crioterapia: união do termo kryos, que significa frio, e therapy, que quer dizer tratamento. Se a palavra é complicada, o uso do método pode ser bastante simples e todos nós já devemos ter recebido compressas com gelo em nossa infância ou juventude, ao sofrermos contusões.
Mas o que as pessoas em geral não sabem é que o sucesso das aplicações geladas nos locais contundidos se deve à sua capacidade de desinchar os tecidos, já que reduzem o volume de sangue que circula na região e a entrada de líquidos nas células, em um processo chamado de vasoconstrição. Além disso, o resfriamento faz com que o metabolismo celular seja reduzido e que as células precisem de uma quantidade menor de oxigênio, podendo assim reagir melhor às lesões e ajudar a conter a expansão do tecido lesado.
Mas a crioterapia também atua no sistema neurológico do organismo, pois o frio aplicado na região afetada estimula o envio de mensagens para os receptores térmicos e eles diminuem o envio de impulsos nervosos para o local. Traduzindo: sentimos menos dor!
O impulso gelado da tecnologia
Se a crioterapia começou com técnicas bem simples, ela evoluiu ao longo do tempo e atualmente conta com equipamentos que permitem uma capacidade terapêutica maior através de um resfriamento controlado da temperatura corporal. Ótima notícia para nós, já que agora é possível utilizá-la para tratar muitos problemas em nosso organismo, além de pequenas contusões.
Através da água em estado líquido, sólido ou gasoso, existem muitas opções sendo oferecidas, todas elas dispostas a dar um choque intenso em determinadas regiões, congelando espaços dentro e fora das células, durante um intervalo de tempo.
Uma das técnicas mais recentes é chamada de Crioterapia de Corpo Inteiro e consiste em manter a pessoa tratada em cabines térmicas com temperaturas entre 100 e 195 graus celsius negativos. Se o altíssimo nível de frio assusta, o tempo de cada sessão atenua o receio em passar pela experiência: em até 3 minutos de sessão já voltamos da viagem à era do gelo com o organismo revigorado.
A partir dessa imersão gelada, nosso corpo vivencia uma quebra no ritmo do metabolismo que, após baixar subitamente no momento da aplicação, tende a acelerar para se recuperar do seu impacto, o que favorece a regressão de lesões e pode, até mesmo, estimular a eliminação de gordura corporal.
Bem além da fisioterapia
Para dar uma ideia das possibilidades terapêuticas do uso do resfriamento na área médica, podemos dizer que já existe um setor chamado criocirurgia, na qual costuma ser usado um spray de nitrogênio líquido que leva à destruição do tecido doente ao ser aplicado em lesões de pele.
O uso para fins estéticos já é frequente e há pesquisas em inúmeros setores da medicina. Um deles é o que trata das disfunções nos movimentos das mandíbulas, problema que pode atrapalhar a fala e a mastigação dos alimentos. As fortes evidências de sua eficácia devem fazer com que o método seja difundido entre os profissionais de fonoaudiologia, nos próximos anos. Outro campo promissor é o que combate tumores de pele. A crioterapia, como coadjuvante, já demonstrou que pode reduzir carcinomas, entre outros tipos de tumores, tanto benignos quanto malignos, atacando um problema que costuma ser tratado de modo muito invasivo, somente através de cirurgias e sessões de quimioterapia.
Realmente, hoje, podemos considerar que a crioterapia está a pleno vapor (vapor muitíssimo gelado, é bom frisar!) e que, mesmo em plena região tropical, como a que vivemos, já é totalmente possível experimentar seus poderes terapêuticos. São três minutinhos para se sentir dentro de um iceberg! Vamos lá?!