- Ciência
Atire o primeiro pote de creme redutor de gordura quem nunca brigou com uma dobrinha indesejada, daquelas que insistem em marcar presença no corpo onde não deveriam estar.
Em uma sociedade que nos bombardeia com alimentos altamente engordativos, ao mesmo tempo que exige um padrão corporal "sequinho", é difícil escapar da guerra contra os quilos extras ou os pneuzinhos.
Se a epidemia mundial de obesidade é um dos grandes desafios na área da saúde, demandando ações por parte do poder público, a batalha de cada pessoa para não se tornar um depósito ambulante de gordura também tem sido uma fonte de angústia e exigido muito esforço na esfera individual.
Manter uma alimentação saudável, praticar atividades físicas regularmente, dormir de forma adequada - medidas necessárias para controlar o peso - não são tarefas fáceis em meio às rotinas estressantes e repletas de guloseimas em que vivemos.
Mesmo entre as pessoas que têm um corpo dentro dos padrões considerados normais, frequentemente encontramos a presença de regiões corporais em que o tecido adiposo é mais abundante e traz desconforto físico e emocional.
São o que, em termos clínicos, costumamos chamar de bolsas de gordura - em geral localizadas na região do abdômen, das costas, do pescoço e até da face.
Quem já passou por um processo de emagrecimento sabe que a perda de peso não ocorre de forma homogênea: alguns locais do corpo parecem insistir em não abrir mão de suas gordurinhas, destoando do conjunto e se tornando fontes de insatisfação.
Por mais que as pessoas sigam dietas e pratiquem exercícios físicos, essas regiões teimam em se manter proeminentes, dificultando o uso de determinadas roupas ou a execução de certos movimentos.
Enquanto você briga com seus pneuzinhos na barriga e seu colega de trabalho tenta atenuar um queixo duplo, a pergunta que não quer calar é: por que esses benditos locais do corpo - que são diferentes para cada um - resistem a todos os esforços que fazemos para entrar em forma?
Seu corpo é único
As beldades nas capas de revista ou os atletas de alto rendimento costumam ser vistos como modelos estéticos para a população em geral, mas cada uma dessas pessoas têm uma constituição física muito particular, determinada não apenas pelos cuidados que têm com o próprio corpo, mas, também, por uma herança genética e por fatores ambientais que influenciam o modo como seus genes vão se expressar.
É assim que as células de gordura, por exemplo, tendem a se concentrar na região das costas de uma determinada pessoa, enquanto são mais concentradas nas bochechas de outras.
Há uma codificação nos genes de cada uma para que essa distribuição seja assim, do mesmo modo que elas foram e são submetidas a estímulo ambientais diferentes desde que estavam no ventre materno.
A própria forma com que foram amamentadas exerce influência na facilidade ou na dificuldade com que ganham e perdem peso.
Pesquisas vêm indicando que alterações na circunferência da cintura (o que é chamado de obesidade abdominal) não são reguladas pelo mesmo mecanismo que regula o ganho ou a perda de peso geral, o que ajuda a explicar porque existe tanta diferença entre uma pessoa e outra em relação ao acúmulo de gordura no abdômen.
Segundo um estudo recente, "variantes genéticas associadas à obesidade são expressas no sistema nervoso central; no entanto, as associadas à obesidade abdominal são expressas nos tecidos adiposos e podem estar envolvidas na sensibilidade à insulina, ou na forma e diferenciação dos adipócitos, influenciando o quanto eles podem se expandir em tamanho ou número."
Então é preciso entender que seu corpo não funciona da mesma maneira que o de seu colega de escritório ou o de sua vizinha. Ele é só seu e sempre terá características específicas que vão requerer um olhar atencioso.
Definir o que pode ser mudado em sua constituição, seja em termos estéticos ou funcionais, exige realismo e autoconhecimento para não criar expectativas inalcançáveis ou insistir no que não trará resultados.
No caso da gordura localizada, novas alternativas para lidar com ela vêm surgindo para evitar processos invasivos e arriscados, como costumam ser as cirurgias plásticas.
Procedimentos clínicos mais acessíveis têm ganhado espaço e podem ser um caminho para atenuar o desconforto com as dobrinhas que não cedem com dieta ou malhação.
Enzimas gulosas
Uma das novidades no setor é baseada no uso de substâncias que receberam o nome de esvaziadores de gordura, os Emptiers. Eles podem ser de base orgânica - compostos por fitoterápicos, como alcachofra, centelha asiática e cafeína -, ou sintética - contendo fosfatidilcolina e ácido desoxicólico.
Ativando enzimas, eles conseguem eliminar as células gordurosas das regiões em que foram aplicados, reduzindo aqueles volumes resistentes aos outros tratamentos.
A técnica, simples e eficaz, consiste em injetar, com o uso de agulhas muito finas, pequenas quantidades de uma solução líquida diretamente nas bolsas de gordura que se deseja tratar.
As substâncias presentes nessa solução vão agir para quebrar as cadeias de gordura e transformá-las em micropartículas facilmente absorvidas pelo organismo e eliminadas pela urina ou pelas fezes.
Podemos falar que as enzimas "mastigam" o material gorduroso para que o próprio corpo possa se livrar dele naturalmente, sem cortes ou cicatrizes.
Com resultados semelhantes à lipo, e por isso também chamada de lipo enzimática, mas sem os riscos e os processos invasivos que a caracterizam, os Emptiers podem ser aplicados em diferentes partes do corpo, como na papada, nas bochechas, nas axilas, na região do sutiã, no abdômen e em outras pequenas áreas do corpo.
O procedimento pode ser realizado em consultório e não é preciso interromper sua rotina, apenas seguir os cuidados recomendados pelos profissionais responsáveis, como não massagear a região.
Após cada aplicação, é comum observar alguns hematomas, leve vermelhidão e inchaço no local tratado. Entretanto, não há motivo para preocupação, pois esses sintomas são uma resposta natural à ação deliberada dos Emptiers - essa inflamação controlada é essencial para garantir sua eficácia.
Além disso, as próprias substâncias usadas possuem propriedades anti-inflamatórias para ajudar no processo de recuperação.
O número de sessões e o intervalo entre elas dependerá do local que será tratado, do tamanho da área envolvida e das expectativas em relação aos resultados obtidos, o que demanda uma avaliação personalizada por parte de um profissional de confiança.
Se você pertence à imensa parcela da população que vive em guerra com gordurinhas teimosas que - mesmo com todos os cuidados para uma vida saudável - insistem em destoar e desarmonizar do seu corpo, os Emptiers podem dar aquela força para que se livre desses incômodos.
Se vivemos em uma sociedade voraz, repleta de guloseimas, ao menos agora podemos contar com a gula dos esvaziadores de gordura para devorar as dobrinhas e pneuzinhos mais resistentes. Que eles tenham um bom apetite!
Awake. Life is inside.