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Fome emocional: o que é e como ela afeta sua rotina alimentar

Fome emocional: o que é e como ela afeta sua rotina alimentar
  • Conhecimento

Quando você vai a um restaurante em que há um cardápio variado, como você escolhe o que vai comer? 


Provavelmente, fatores como o preço do prato ou se ele é saudável podem ter influência na sua decisão, não é? No entanto, há um elemento fundamental que não pode ser desconsiderado: seu estado emocional.


A alimentação envolve muito mais do que satisfazer necessidades físicas; ela está intimamente ligada com nossas emoções, com nossa história, com nossas memórias e até com as relações que estabelecemos com as pessoas ao nosso redor. 


Ela diz respeito à nossa própria identidade e ao que estamos sentindo no momento exato em que saboreamos uma refeição. 


As reflexões sobre o que comer, quando comer, onde comer e com quem comer constam até no Guia Alimentar para a População Brasileira, documento pioneiro no mundo, ao considerar as dimensões subjetivas que envolvem o ato de se alimentar, como a cultura e o ambiente - entendendo que cada pessoa tem um universo alimentar próprio e não existe uma dieta-padrão, a ser imposta de forma totalizante. 


Então, é importante entender o que leva você a comer o que costuma comer, decifrando os mecanismos físicos, psíquicos e emocionais por trás de suas escolhas - inclusive as pressões e cobranças da sociedade por determinados padrões estéticos ou de produtividade -, se quiser ter mais consciência e equilíbrio no desenvolvimento desse processo essencial em sua vida. 


O ovo e a galinha


Provavelmente, você já abusou da ingestão de doces em um momento de ansiedade ou frustração, não é?


Isso acontece porque eles estão cada vez mais disponíveis e impulsionadas pela publicidade, mas, também, porque produtos alimentícios ricos em açúcar, gordura e sal, como biscoitos, chocolates e salgadinhos, têm formulações especialmente criadas para ativar nosso sistema de recompensa, fazendo com que o cérebro libere substâncias que nos dão prazer, alívio e conforto. Ou seja, porque eles aplacam a famosa fome emocional.


Só que esse efeito não apenas é efêmero, como contribui para desequilibrar ainda mais o nosso funcionamento bioquímico, acentuando estados psicoemocionais de irritação, nervosismo, estresse e até esgotamento.


Além de não nos fornecerem os nutrientes necessários, as guloseimas interferem negativamente na nossa capacidade de sentir que estamos saciados, fazendo com que a gente coma cada vez mais vezes - e em maior quantidade - aquilo que não nos nutre.


É assim que acabamos nos viciando em alimentos que não são saudáveis, o que afeta nosso organismo como um todo, e pode desencadear as famosas DCNTs, as Doenças Crônicas Não Transmissíveis, como a hipertensão, o diabetes e até o câncer.


A mais comum, no entanto, é mesmo a obesidade, doença que adquiriu status de epidemia mundial e desafia a medicina como um dos maiores problemas atuais de saúde pública. 


Quilos a mais na balança, quilos a mais na consciência, mais e mais frustrações e sentimos que estamos imersos em um ciclo vicioso, em que as carências emocionais nos impulsionam a um padrão alimentar inadequado, ao mesmo tempo que este padrão gera mais e mais estados em que nos sentimos carentes e vulneráveis.


É a velha estória do ovo e da galinha e parece que nem sabemos mais onde tudo começou. 


Será que existe um caminho seguro para romper esse ciclo? Será que é possível não apenas pôr um limite no comportamento vicioso, mas conquistar um padrão virtuoso em relação ao modo de se alimentar e, consequentemente, de conduzir a sua vida?


A resposta é sim. Entretanto, atenção, ela não envolve nenhuma fórmula mágica. 


Nutrir as células e o cérebro 


Segundo um relatório sobre tendências alimentares, feito em 2021, 57% dos brasileiros acreditam que o processo digestivo tem influência na saúde psicoemocional. E eles têm razão: o cérebro é o órgão que mais consome energia, utilizando cerca de 20% do que nosso corpo extrai a partir da digestão dos alimentos.


Dependendo do que comemos, ele irá reduzir ou ampliar a liberação de neurotransmissores, o que vai gerar estados mentais específicos, que podem envolver um maior ou menor grau de ansiedade ou de cansaço, por exemplo.


Hoje, temos muitas comprovações de que alimentos saudáveis, como grãos integrais, hortaliças, frutas e castanhas, protegem o cérebro de doenças psíquicas e cognitivas.


O inverso também já foi amplamente comprovado: a alta ingestão de açúcar, gordura saturada e farinhas refinadas estimula processos degenerativos e distúrbios psíquicos, como a depressão e o estresse - contribuindo até para a diminuição do tamanho do cérebro, sobretudo do hipocampo, região fundamental para a cognição.


Os mecanismos por trás dessas influências são complexos e envolvem a relação intestino-cérebro, a inflamação e o estresse oxidativo, por exemplo. Todos esses fatores podem ser regulados através de um plano nutricional equilibrado, que encontre os alimentos certos para o seu organismo, já que ele não é igual a nenhum outro e que você tem uma rotina, uma trajetória e expectativas de vida só suas. 


Sem peso na consciência


Descobrir como você se comporta em relação aos alimentos, compreendendo os motivos que o levam a comer da forma que come, é fundamental para encontrar um caminho que equilibre sua relação com a comida e sair do ciclo vicioso que gera doenças físicas e mentais.


Para isso, você pode contar com testes genéticos que mostram se há alterações em genes relacionados ao acúmulo de gordura ou à obtenção da saciedade, por exemplo. 


Com o apoio de um nutricionista, é possível criar estratégias para reduzir os efeitos de possíveis alterações genéticas, já que, tanto ou mais do que elas, o ambiente em que você vive tem influência no seu comportamento alimentar e, consequentemente, no seu metabolismo.


Então, se você tiver uma tendência genética para petiscar ao longo do dia ou para não reconhecer quando está saciado, uma orientação nutricional que considere esses aspectos será importante para reduzir esses efeitos, ao estimular um ambiente mais saudável e seguro em seu dia a dia alimentar. Do mesmo modo, levar em conta suas preferências, seus hábitos e suas metas é fundamental para que você se mantenha firme no percurso, sem privações ou culpas.


Uma abordagem personalizada no desenvolvimento do que é definido como uma alimentação consciente pode fazer com que os benefícios que ela traz, já comprovados cientificamente, sejam maximizados e ajudem a libertar você das armadilhas biológicas, emocionais e sociais que o levam a comer o que não faz bem.


Assim, é possível conquistar um corpo mais leve, ágil e repleto de energia para aproveitar o que a vida pode oferecer. É possível, também, ter a mente livre do peso que a dificuldade em se alimentar adequadamente deposita sobre você. Você pode, sim, trilhar um caminho rumo a um organismo equilibrado, em que todos os órgãos, sobretudo o cérebro, estejam bem alimentados. 


Com um corpo saudável e uma mente em harmonia, você poderá até mesmo voltar a nutrir seus sonhos - porque terá muito mais chance de que eles se tornem realidade.


Awake. Life is inside.