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Quando a barriguinha vira Síndrome de Adiposidade Visceral

Quando a barriguinha vira Síndrome de Adiposidade Visceral
  • Conhecimento

Se você é dessas pessoas que só aparece de frente nas fotos para evitar que "ela" se destaque em seu perfil, é hora de parar de se enganar.


Sim, "ela" existe, desequilibra sua silhueta e, o mais grave de tudo: indica um risco acentuado de ter graves complicações de saúde. Estamos falando da tal barriguinha, cada vez mais proeminente por fazermos atividades físicas de menos e ingerirmos calorias demais


Sobretudo nos homens, ela tem aparecido cada vez mais cedo e tem se tornado uma companhia constante ao longo da vida. É que, ao contrário das mulheres, que costumam concentrar a gordura na região do quadril e das pernas - tendo um formato corporal parecido com uma pêra -, eles possuem uma concentração maior na região do abdômen - tendo um formato de corpo mais parecido com uma maçã.


Frutas a parte, o que importa é que a famosa barriguinha não tem nada de inocente: está diretamente relacionada a condições perigosas de saúde, que precisam ser monitoradas e tratadas, para você não engrossar as estatísticas dos infartos agudos do miocárdio e dos AVCs - eventos que atingem números cada vez mais alarmantes, sendo a principal causa de morte no mundo. 


Há mais de 250 anos, a ciência já descobriu a associação entre a presença de um grande volume de gordura abdominal e o risco de desenvolver um conjunto de problemas cardiovasculares, o que foi chamado de Síndrome de Adiposidade Visceral. De lá para cá, estudos têm mostrado como esse processo ocorre e poderia ser prevenido, evitado ou mesmo revertido.


A barriguinha por dentro


Por fora, ela é facilmente reconhecida. Começa tímida, despontando na região do umbigo, exigindo mais um furo no cinto. Mas pode ir ganhando mais e mais espaço, até se transformar em algo tão volumoso quanto uma melancia, tornando-se um verdadeiro fardo.


Mas, e por dentro? Você sabe o que está carregando? Se quer combater esse alargamento contínuo da cintura e os problemas graves que ele traz, saiba que "ela" é formada pela gordura que reveste os órgãos da região, chamados de vísceras, e que, por isso, recebe o nome de gordura visceral, sendo considerada a mais perigosa para a saúde. 


A princípio, essas camadas gordurosas servem para proteger os órgãos e servir de reserva energética. Mas, em excesso, atrapalham o metabolismo, afetando o pâncreas, o fígado e mesmo o intestino - o que desregula o próprio sistema de processamento da gordura no organismo, fazendo com que ela se acumule cada vez mais nessas regiões. É como uma bola de neve - nesse caso, uma bola de gordura - que se torna cada vez maior. 


Além disso, esse excesso estimula a produção de moléculas inflamatórias, causando um estado de inflamação crônica, fortemente ligado à aterosclerose - quando as artérias e veias do corpo acumulam placas gordurosas -, o que pode desencadear infartos e AVCs. É por isso que, ao se referir à Síndrome de Adiposidade Visceral, a ciência fala em doenças cardiometabólicas, alertando a sociedade para a gravidade e a complexidade do problema. 


Ciclo gorduroso


Já se sabe que a ingestão de alimentos com alta quantidade de gordura é como a coceira: quanto mais você come, mais deseja comer. E mais engorda!


Os mecanismos por trás desse ciclo vicioso envolvem a liberação de substâncias que dão prazer, a perda da capacidade de sentir saciedade e o desequilíbrio da quantidade de açúcar no sangue, que leva ao aumento da produção de insulina, favorecendo o armazenamento de mais gordura. Dez a zero para a barriguinha, não é?


Também já reconhecemos a influência que nosso estado emocional exerce sobre nosso comportamento alimentar. Vale a pena destacar o efeito de uma condição que atinge a humanidade no mundo todo: o estresse crônico. Ele estimula a produção de cortisol, um hormônio que aumenta o apetite e faz seu organismo estocar mais gordura visceral. 


É por isso que, no caso da população masculina, as rotinas de trabalho estafantes estão diretamente ligadas aos ataques cardíacos e derrames. Eles poderiam ser previstos e até impedidos se os homens tivessem olhado com mais atenção para o próprio umbigo e reconhecido que ele está ilhado em uma imensa bolsa de gordura, que aumenta com a idade.


Ao falar em idade, é preciso falar dos hormônios. À medida que os homens envelhecem, os níveis de testosterona diminuem e o metabolismo desacelera, o que resulta em aumento de peso, especialmente na área abdominal. Se houver uma rotina em que não se dorme bem, o problema tende a se agravar, já que boa parte da produção de testosterona se dá durante o sono e ficará prejudicada.


É claro, não podemos negar a existência de predisposição genética. Já se sabe que as alterações nos genes de quem tem a chamada obesidade periférica - quando a gordura se distribui por todo o corpo - são diferentes das alterações nos genes de quem sofre de obesidade visceral - quando há concentração na região do abdômen, mesmo que as demais regiões do corpo sigam os padrões normais. 


É desse modo que pessoas consideradas magras, mas que possuem uma barriga proeminente, podem ter tantos - ou até mais - riscos de desenvolver complicações de saúde, se comparadas às pessoas obesas que têm menos gordura concentrada nas vísceras. Por isso, os alertas sobre a necessidade de olhar com atenção para o volume do abdômen vêm aumentando e a população masculina é o grande alvo das campanhas.


Tudo azul no horizonte


Homens são mais arredios em relação ao acompanhamento médico regular. Eles costumam procurar auxílio somente quando algo grave acontece, perdendo a chance de evitar que os problemas se tornem mais complicados - ou até crônicos. Uma das doenças que mais cresce com essa falta de cuidado é o câncer de próstata. 


A doença é multifatorial, mas já se sabe que os homens que têm Síndrome de Adiposidade Visceral são mais propensos a ela, assim como eles também são mais propensos a outros tipos de câncer, apneia do sono, gota, hipertensão e até a disfunções cognitivas. Para chamar a atenção sobre o tema e estimular uma postura mais responsável, foi criada a Campanha Novembro Azul.


A princípio, ela buscava conscientizar sobre os riscos do câncer de próstata, mas sua missão se ampliou e o mês passou a ser um período em que a população masculina é mobilizada para cuidar da saúde como um todo. Pode ser o momento certo para você se olhar de frente - e de lado - no espelho e encarar aquela barriguinha que insiste em ganhar espaço. 


Fita métrica, balança, exames para medir colesterol, triglicérides e hormônios: tudo isso pode ajudar a descobrir qual é a real situação de seu organismo e, em conjunto com uma equipe médica e nutricional bem afinada, dar início a um tratamento para reverter a avalanche da qual é vítima, fazendo com que a tal bola de neve - ou de gordura - comece a derreter.


Sim, dar adeus a "ela" é possível. O primeiro passo é reconhecer que "ela" existe, entender porque se tornou sua companheira e como preparar uma despedida definitiva. De visceral, basta a vida. 


Awake. Life is inside.