- Ciência
A dor sempre foi um dos principais motivos de sofrimento para os seres vivos. Você deve saber bem como ela impede que o dia ou a noite sigam seu curso normal. Seja uma dor física, seja uma dor emocional, o que mais desejamos quando a sentimos é fazer com que ela passe - ou, ao menos, diminua.
Chás, pomadas, gelo, massagens, banhos… foram inúmeras as formas desenvolvidas para tentar lidar com ela, conseguindo ou não um alívio para quem a sente. Hoje, se você pode ir à farmácia e comprar um analgésico é porque o conhecimento sobre o que funciona aumentou exponencialmente.
Ainda temos muito o que desvendar sobre o que causa a dor e como ela pode ser tratada com segurança e eficiência - sobretudo se considerarmos que, só no Brasil, cerca de 60 milhões de pessoas sentem dores crônicas e estão expostas aos efeitos colaterais de remédios, principalmente os que são consumidos via automedicação.
Felizmente, existem cada vez mais recursos disponíveis e vale a pena conhecer um pouco mais dessa história.
Uma das práticas terapêuticas mais antigas e eficazes para reduzir a dor é a Acupuntura. Seus mestres descobriram como utilizar agulhas finíssimas para tratar diversos tipos de doenças. Quando aplicadas em determinados locais do corpo, elas ativam o sistema nervoso central para liberar substâncias que geram bem-estar. É por isso que você sente alívio quando vai a um bom acupunturista.
Assim como os povos do oriente, os ocidentais também se dedicaram à busca de soluções e o avanço da química abriu inúmeras possibilidades aos laboratórios científicos. A capacidade de sintetizar moléculas e testar sua eficiência permitiu o desenvolvimento de medicamentos dos mais variados tipos e segue impulsionando quem faz ciência de ponta.
A humanidade ganhou um verdadeiro presente com a criação do primeiro anestésico local sintético injetável, em 1905. O autor do feito, o químico alemão Alfred Einhorn, batizou comercialmente a nova substância de Novocaína, mas o nome usado pela classe médica é Procaína e ela pode fazer muito por sua saúde.
Sem medo do dentista
Se você é dessas pessoas que se arrepia só em pensar em um consultório odontológico, faz parte de uma multidão!
De fato, imaginar aparelhos que raspam e extraem dentes em nossa boca é algo que parece um pesadelo. Além disso, a região é extremamente sensível à dor. É por isso que o uso de anestésicos se tornou imprescindível para muitos dos procedimentos feitos pelos dentistas.
E é aqui que a Procaína fez (e ainda faz) toda a diferença. Por proporcionar efeitos analgésicos quase instantâneos, ela pode ser injetada minutos antes de um tratamento dentário. Através da vasodilatação dos canais sanguíneos, ela aumenta o fluxo de sangue e bloqueia os impulsos nervosos que fazem com que você registre que a região está dolorida.
Mas o medicamento, assim como outros anestésicos injetáveis, está longe de se restringir à odontologia e se tornou protagonista de terapias que vão muito além da simples analgesia momentânea. Ele se mostrou capaz de gerar benefícios de longa duração, mesmo após o fim do efeito do bloqueio da dor. Além disso, tem boa tolerância e baixo índice de reações alérgicas.
É assim que um conjunto amplo de problemas de saúde vem sendo tratado através do que chamamos de Terapia Neural. De inflamações a distúrbios degenerativos, de dores pós-cirúrgicas a crises de estresse, essa prática terapêutica proporciona alívio e é uma alternativa para pessoas que sofrem com problemas físicos e mentais.
Através da aplicação de Procaína - ou outros analgésicos locais injetáveis - em cicatrizes, glândulas, nervos e tecidos determinados, é possível reorganizar o sistema nervoso autônomo e reequilibrar a função biológica. É assim que muitas pessoas têm obtido soluções para condições de saúde problemáticas que não respondiam a tratamentos anteriores.
Dos consultórios dentários para o mundo, as injeções de anestésicos ganharam espaço em clínicas e hospitais para tratar uma ampla gama de disfunções e podem fazer com que você tenha, enfim, seu bem-estar restaurado.
Milenar e tecnológico
Como já mencionamos, a Acupuntura é um tratamento antiquíssimo - que segue em pleno vigor. Se você já está familiarizado com os princípios que norteiam a técnica, saiba que são bem semelhantes aos que a Terapia Neural se baseia.
Às vezes, as injeções de Procaína são aplicadas em locais que também são pontos de Acupuntura: é a soma da potência das agulhas com o poder dos anestésicos sintéticos, unindo os saberes milenares do oriente à tecnologia inovadora do ocidente, para otimizar sua saúde.
Para entender melhor como funciona esse processo, imagine que todo seu corpo é formado pelo que chamamos de tecidos conjuntivos. Eles fazem a ligação entre outros tecidos, dando sustentação, preenchendo espaços e armazenando certos materiais, como gordura. E têm uma capacidade fundamental: são semicondutores de eletricidade.
Agora pense que seus nervos são tecidos conjuntivos que conduzem fluxos elétricos que vão da pele aos órgãos (e vice- versa), levando reflexos do que ocorre em uma determinada região à outra. São as fibras nervosas presentes nesses tecidos que conduzem os impulsos, através de uma rede de conexões. Quando um local apresenta fibras que sofreram algum tipo de estresse, o sistema se desequilibra e pode desencadear doenças.
Um jeito fácil de visualizar é imaginar uma cicatriz, como a que é deixada por uma cirurgia em alguma parte do corpo. Ela pode gerar interferências elétricas que as fibras nervosas transmitem para outras áreas corporais, causando reações em locais que não estavam diretamente envolvidos na intervenção cirúrgica.
Por isso, muitas vezes, é comum ver pessoas que têm cicatrizes pós-operatórias sentirem dor ou desconforto em uma região diferente do local afetado. Nosso sistema nervoso é uma trama complexa e, como há milênios a Acupuntura nos revela, somos um todo interconectado em que a energia precisa fluir de modo harmônico.
A Terapia Neural abre uma porta para restaurar os fluxos que sofreram alguma disfunção.
Harmonia à flor da pele e além dela
Cerca de 80% das fibras nervosas simpáticas do organismo percorrem regiões cutâneas ou subcutâneas. Não é à toa que costumamos dizer que sentimos certas emoções à flor da pele.
Devido a facilidade de acessá-las por meio de intervenções menos invasivas, essas regiões sempre foram alvo de diversas modalidades terapêuticas e têm um grande potencial para o desenvolvimento de novos tratamentos.
O que a Terapia Neural faz é justamente aplicar anestésicos em tecidos subcutâneos, para que as fibras nervosas locais conduzam estímulos a estruturas mais profundas do corpo, reduzindo inflamações, dores e outros sintomas de desequilíbrio, e restaurando a homeostase.
O papel do terapeuta é encontrar o que chamamos de “campos de interferência” ou “gatilhos neuromoduladores”, locais em que é possível perceber um sinal de disfunção no sistema nervoso autônomo. Dessa forma, ele poderá determinar onde é necessário aplicar o anestésico para atingir o alvo.
É algo bem semelhante ao que um acupunturista faz, ao dispor agulhas em certas regiões do corpo para gerar reações em outras, equilibrando o fluxo de energia. Com a quebra do círculo vicioso disfuncional, o efeito terapêutico que ocorre será de longa duração - muito maior que a ação da anestesia.
Também vale lembrar que, para ajudar a encontrar um campo de interferência, é necessário fazer um histórico cuidadoso do paciente.
Agora que você já sabe como a Terapia Neural age na teoria, deve estar se perguntando se há comprovação de que ela realmente funciona na prática, não é? Então vamos lá!
Uma revisão de dezenas de estudos científicos demonstrou a segurança e a eficiência das aplicações de anestésicos locais, como as que a Terapia Neural realiza, em condições como hipertensão, inflamação, dor, estresse pós-traumático e até síndrome de pós-Covid. Há ainda uma menção ao baixo índice de efeitos colaterais e de interações medicamentosas, bem como à alta acessibilidade e disponibilidade dessas substâncias no mundo.
Pesquisadores constataram que os níveis de satisfação de pacientes em tratamentos de doenças musculoesqueléticas são significativamente mais altos quando atendidos por médicos que praticam Terapia Neural. Um feito e tanto se considerarmos que se trata da classe de distúrbios que afeta mais pessoas no mundo e o principal motivo de incapacidade no trabalho.
Terapia de ontem, de hoje e do amanhã
Existem perspectivas positivas até em relação à redução da ocorrência de metástases em casos de câncer de mama, algo que ainda acontece em relação a cerca de 30% das mulheres que sofrem com a doença. E um outro uso comprovado é no tratamento de transtornos psicoemocionais, já que a terapia se mostrou eficiente para combater a ansiedade e outras disfunções.
Realmente, não é por acaso que a Terapia Neural foi considerada uma das práticas terapêuticas integrativas mais benéficas pelos médicos familiares alemães, sendo, junto com a Acupuntura e a Fitoterapia, das modalidades mais usadas por eles no país, segundo um estudo com 3000 profissionais.
Já deu pra perceber que estamos falando de uma forma de tratamento que tem uma história mais do que consistente (ainda mais se levarmos em conta suas relações com a Acupuntura), que é muito utilizada nos dias atuais para tratar um amplo conjunto de disfunções de saúde e que apresenta possibilidades preciosas para o futuro.
Sabemos que desequilíbrios, dores e cicatrizes fazem parte da vida. Mas, como você viu aqui, a Terapia Neural pode aliviar (e muito) o incômodo que elas geram em sua rotina. Depois de milhares de anos da criação da Acupuntura, hoje, novamente, a conquista da harmonia pode estar na ponta das agulhas.
Awake. Life is inside.