- Conhecimento
Flores, perfumes, vinhos, bombons… o que você acha que estes elementos têm em comum? Sim, todos despertam prazer e, por encantarem os sentidos, costumam ser escolhidos quando queremos presentear alguém. Neste artigo, vamos nos concentrar no ingrediente tradicional que compõe justamente o último item da lista - os bombons.
Sabemos que uma boa parte das pessoas considera o chocolate o alimento que mais simboliza o prazer sensorial do paladar. Ele tem doçura, intensidade e derrete lentamente na boca, deixando um gosto de quero mais. Seus efeitos se estendem muito além do ato de degustá-lo, ativando áreas do cérebro que liberam substâncias que geram bem-estar. Não é à toa que as mulheres correm para ele quando estão na fase de TPM. Ou que existam os chocólatras incorrigíveis, que não ficam um dia sem seu sabor.
Prazer, bem-estar, energia. Palavras que revelam o quanto estamos lidando com um alimento especial, não é? Mas o chocolate é apenas um dos produtos que um fruto muito poderoso, utilizado de forma ancestral por povos nativos das Américas, pode nos oferecer.
Sim, estamos falando do Theobroma Cacao, termo que significa Alimento dos Deuses e é o nome científico do fruto do cacaueiro, nosso precioso cacau.
Muito antes da criação dos primeiros chocolates em barras, povos que viviam há milênios nas regiões sul e central da América descobriram um fruto que se revelou um verdadeiro presente dos céus. Ao abrir sua casca amarelada ou avermelhada, eles encontraram, escondidas entre a polpa branca suculenta, várias sementes escuras e resistentes.
Foi com esse tesouro vivo - as amêndoas do cacau - que desenvolveram uma receita complexa, repleta de etapas trabalhosas, cujo resultado foi uma bebida densa, encorpada, vigorosa. Um verdadeiro elixir, que traz potência e energia a quem o bebe - adquirindo um caráter medicinal.
Mas, curiosamente, esse néctar dos deuses não era doce: tinha um sabor amargo e picante, graças às especiarias acrescentadas em seu preparo, como a pimenta malagueta. Foram esses sabores da bebida que deram origem ao nome que conhecemos hoje - chocolate -, pois, para os astecas de língua náuatle, a palavra “xocolātl” significa água amarga.
Segundo as pesquisas científicas, essa "água" tão especial já era consumida pelo povo Mokaya em 1900 aC e por povos pré-olmecas em 1750 aC, indicando que as receitas originais fazem parte de culturas de cerca de 4000 anos e permeiam civilizações de destaque histórico, como a Maia e a Asteca.
Do passado milenar ao presente industrial
Se os astecas valorizavam tanto as sementes do cacau, ao ponto de as usarem como moeda para suas trocas comerciais, novos apreciadores desse "tesouro" foram surgindo, conforme ele se tornou conhecido em outras regiões do planeta. De seu berço ameríndio, as sementes de cacau foram levadas para a Europa pelos navegadores espanhóis e a bebida tradicional sofreu adaptações ao paladar europeu.
Assim, graças à retirada da pimenta e ao acréscimo de leite e de açúcar ao líquido extraído do cacau, ela passou de picante e amarga para doce e suave, conquistando de vez a sociedade da época. Nascia o chocolate como nós conhecemos e o mundo nunca mais foi o mesmo.
Hoje, fábricas de países de clima frio, como Bélgica e Suíça, produzem as versões mais desejadas em todos os cantos do globo - consideradas tão preciosas como eram as sementes de cacau para os astecas.
Se o sabor inconfundível tornou o chocolate precioso, seu principal ingrediente, o cacau, também merece ser valorizado do ponto de vista nutricional. Com uma composição química única, que é formada por mais de 500 compostos diferentes, ele é repleto de antioxidantes, anti-inflamatórios e estimulantes cognitivos, sendo considerado um super alimento.
Entretanto, existe uma grande diferença na forma atual de dar valor a ele e algo importante foi perdido nesse longo percurso: a dimensão do sagrado.
Antigas tradições ameríndias
Foi a presença de uma das substâncias mais características do cacau, a teobromina - que é estimulante e revitalizante -, em recipientes usados pelos povos indígenas americanos, que possibilitou aos pesquisadores traçar as origens da bebida feita com suas amêndoas e encontrar sinais da complexa cultura que o envolvia, há milhares de anos atrás.
Hoje sabemos que as ligações deste alimento com a esfera sagrada foram sendo tecidas pelos antigos sacerdotes dos povos ameríndios em tradições culturais que sobreviveram à chegada dos europeus, à urbanização e ao processo de industrialização. Preservados por descendentes dos povos nativos de regiões que hoje correspondem ao México, à Guatemala e aos Andes, esses saberes chegaram até nós.
Eles revelam a existência de uma verdadeira medicina do cacau, um conjunto de práticas terapêuticas que unem o físico ao espiritual, conciliando as propriedades bioquímicas desse alimento único com as tradições mitológicas de culto à vida, à fertilidade, à natureza e ao feminino, representadas pela Deusa Ixcacau, reverenciada como o espírito da planta que o gera.
E, sobretudo, após sua divulgação por um geólogo norte-americano chamado Keith Wilson - que se mudou para a Guatemala no começo dos anos 2000 -, essa medicina vem ganhando espaço entre as pessoas que buscam formas mais integradas de se relacionar consigo mesmas, com as outras pessoas e com a teia de seres que compõem o universo, sendo estudada e divulgada por artistas e terapeutas de várias regiões do planeta.
É assim que podemos ter contato com vivências ancestrais consideradas sagradas por conectarem os seres humanos com o que é chamado de Grande Espírito, a força criadora que sustenta a vida.
Entre elas, está a que é conhecida como Cerimônia do Cacau, um ritual elaborado para acessar a nossa essência divina e para nos levar a estados meditativos de paz, comunhão, pertencimento e sabedoria, tão em falta no cotidiano apartado dos ciclos naturais que temos hoje.
Por ter efeito vasodilatador, o cacau tem o poder de aumentar o fluxo sanguíneo do coração, estimulando estados de mais sensibilidade, amorosidade e empatia. Assim, ele pode atuar no chakra cardíaco e favorecer uma libertação em relação aos bloqueios energéticos, às feridas emocionais e aos traumas que guardamos em nosso interior.
Os efeitos experimentados ao participar dessa celebração são de sintonia profunda com o tempo presente e com o local em que estamos e, para que isso seja ainda mais potente, vale preparar com todo o cuidado o ambiente em que estaremos imersos.
Flores, aromas, objetos tradicionais, iluminação… inserimos no espaço cerimonial tudo o que nos transporta a um passado ancestral, em que o cacau é o protagonista e deve ser reverenciado como um fruto abençoado de uma árvore que surgiu há 10 milhões de anos - antes mesmo da própria Cordilheira dos Andes ser formada - e se tornou um elemento cultuado pelos habitantes dessa região por promover a conexão com o cosmos.
É assim que canções e mantras nos envolvem em uma onda de harmonia e bem-estar, gerando um prazer intenso em estarmos vivos e sermos parte de uma história tão antiga quanto sagrada, na qual cada um de nós pode ser quem realmente é e dar valor ao que realmente importa.
É esse o verdadeiro prazer que o cacau é capaz de proporcionar a você. Um sentimento muito mais vigoroso e completo do que uma mordida em um bombom belga ou suíço poderia oferecer. Que tal participar dessa cerimônia inspiradora e descobrir esse prazer ancestral? É um presente de valor inestimável, que só você pode se dar.
Awake. Life is inside.