- Conhecimento
O tema estresse tem sido popular há décadas.
A palavra resiliência - capacidade de um material de retornar ao estado inicial após algum tipo de estresse - ficou tão popular que as pessoas a tatuam em seus corpos. Contudo, ao estudar mais sobre o assunto frequentemente nos deparamos com abordagens superficiais.
Em pronto-atendimento é muito comum ouvir que tal problema ou é "simplesmente" uma virose ou é "estresse" como se estas situações não devessem receber atenção maior.
O cientista Hans Selye foi quem pesquisou e divulgou muito as consequências do estresse, ou melhor, as consequências fisiológicas e patológicas das adaptações disfuncionais do nosso organismo ao stress. Mais recentemente, o casal de médicos e pesquisadores italianos Salvatore Rinaldi e Vania Fontani, ampliaram heroicamente o estudo e a abordagem desta questão fundamental da vida e dos processos de adoecimento.
A área da neuropsicofisiopatologia que estuda a adaptação ao estresse ambiental, tem esclarecido o entendimento e aprofundado mais a visão da medicina sobre as consequências que algumas destas adaptações disfuncionais geram no organismo.
A adaptação à sobrecarga alostática ambiental - ou seja, a busca do organismo pelo equilíbrio no ambiente em que vivemos - ao ser mal gerenciada pelo sistema nervoso central, pode levar ao longo do tempo, a um conjunto de sintomas e disfunções que se expressam nas doenças: uma dor de tensão, por exemplo, que acontece como uma reação do corpo a um impacto ou posição postural errada, se não for tratada, pode virar uma lesão mais séria. Uma baixa ingestão de água ao longo da vida pode se transformar em uma doença renal. O corpo cria mecanismos de adaptação mas no longo prazo isso também tem consequências.
Ao observarmos profundamente uma situação patológica, podemos descrever uma série de dismetrias, ou desequilíbrios funcionais presentes no organismo e explicar melhor o processo de adoecimento a partir das adaptações disfuncionais ao estresse ambiental.
Portanto, tendo um olhar mais cuidadoso, compreendemos profundamente o quanto o estresse não é o problema, ou a doença, e sim a condição necessária para o desenvolvimento das doenças quando o organismo não se adapta funcionalmente.
Esta desadaptação pode ocorrer por diversas causas e fatores, que influenciam na capacidade de regulação do organismo. Por exemplo: hábitos e estilo de vida, intensidade do fator estressor, estado nutricional e psíquico e a carga genética.
Ter consciência de que estas situações fazem parte, desde sempre, da vida também nos auxilia a estarmos acordados para cultivar mais saúde, mais criatividade, mais amor e a fazer escolhas que nos afastem das doenças e dos vícios.
Por Dr. Fábio Bechelli - Médico da Awake, pesquisador e especialista em neuromodulação com tecnologia REAC.