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A importância do autocuidado para cultivar uma vida longa e feliz

A importância do autocuidado para cultivar uma vida longa e feliz
  • Longevidade

Você sente que, a cada dia, algo parece escapar de suas mãos, como se estivesse deixando de lado um elemento essencial em sua vida, em meio ao ritmo alucinado da rotina? Que - vai ano, vem ano - não há espaço para refletir sobre quem realmente você deseja ser, ocupado que está com o tanto que precisa fazer? 


Vivemos em tempos líquidos, como disse o sociólogo Zygmunt Bauman. Traduzindo: deixamos de ter estabilidade nas relações que estabelecemos com o trabalho, com as pessoas, com os lugares e até com nossas próprias ideias e sentimentos. O conceito foi reforçado pelo antropólogo Jamais Cascio, que criou a sigla BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear e Incomprehensible ou Frágil, Ansioso, Não-linear e incompreensível, em português) para definir a forma como vivemos hoje. O mundo humano se tornou instável, fluido, fugidio…


Se, por um lado, rompemos amarras e não somos mais obrigados a sustentar eternamente casamentos que não deram certo ou a seguir carreiras para as quais não temos vocação, por outro, fica difícil manter o prumo frente a tantas inconstâncias e tomar decisões maduras sobre o que priorizar em nossas vidas, em meio à avalanche de estímulos diários que recebemos. 


Mas, seja qual for o tipo de vida que você decidir levar ou for levado a seguir, existe algo que jamais poderia ser deixado de lado: seu bem-estar. Sem se sentir em seu eixo, com saúde e energia, nenhum objetivo que você almeja ou desafio que enfrenta poderá ter sucesso ou ser solucionado. A própria continuidade da sua existência pode ser ameaçada. 


Então, para que você não se perca de si mesmo em sua jornada - deixando de conquistar o que tem potencial para conquistar -, nem seja surpreendido por uma doença sorrateira - dessas que se instalam devido à ausência de atenção com seu próprio organismo -, há uma palavra que precisa permanecer sempre em seu vocabulário e virar uma prática constante: AUTOCUIDADO. 


Olhar para dentro


Somos uma sociedade visual. Isso significa que as imagens ocupam um espaço imenso em nosso mundo. Fotos de tudo o que podemos imaginar inundam as redes sociais: caras e bocas, roupas e acessórios, objetos de decoração, paisagens instagramáveis… a lista de estímulos à visão é sempre infindável. Sim, olhamos tempo demais para o que está fora de nós. 


Como estudos têm revelado, o espaço excessivo que damos a esse mundo externo hiperestimulante tem feito muito mal. Não é à toa que as pessoas que passam muito tempo plugadas às plataformas do momento se tornam mais ansiosas, insatisfeitas, deprimidas e até esgotadas. As referências idealizadas que surgem nas telas do celular e do notebook nos dão uma falsa visão da realidade e sentimos que estamos sempre aquém dos outros.


Além disso, com essa visualidade exuberante, podemos deixar de prestar atenção ao que nossos outros sentidos estão nos revelando. Lembre-se de que você tem o tato, a audição, o olfato e o paladar para se conectar com o mundo, inclusive com o seu mundo interior, que é único, infinito em suas potencialidades e não pode ser comparado com nenhum outro. É por isso que o autocuidado é inseparável de outro conceito essencial: o AUTOCONHECIMENTO.


Será que você está se escutando? Será que já se deu um abraço hoje e sentiu seus músculos se alongando? Que prestou atenção nos aromas no ambiente e se eles trazem boas ou más sensações? Que percebeu a diferença de sabor entre um suco natural, feito com frutas frescas e cheio de vitaminas, e um suco industrial, repleto de açúcar e aditivos? Se as respostas forem negativas, saiba que essa desconexão com o que se passa com você mesmo pode ter duras consequências, tanto imediatamente como a longo prazo. 


Não se permitir ter momentos de prazer - e viver colecionando sensações superficiais, insuficientes e até desagradáveis - faz mal. Emocionalmente, traz frustração, deprime, gera nervosismo. Mentalmente, compromete sua capacidade de raciocinar, de criar, de encontrar respostas para os desafios no trabalho ou na vida pessoal. E, fisicamente, pode ser um verdadeiro desastre, resultando em doenças de todos os tipos, inclusive fatais. 


Olhar para dentro é fundamental, só que é algo que, infelizmente, as pessoas não costumam fazer. 


Cuidar hoje para estar bem sempre


Os números estão aí: 30% dos brasileiros sofrem com burnout, a obesidade se tornou uma verdadeira epidemia mundial, as mortes por ataques cardíacos e AVCs seguem no topo do ranking, os antidepressivos e ansiolíticos são dados até para as crianças. E os cientistas já revelaram que muitos dos desequilíbrios físicos, psíquicos e emocionais que sofremos poderiam ser prevenidos com medidas básicas de autocuidado, incluindo check-ups periódicos.


As chamadas DCNTs - Doenças Crônicas Não Transmissíveis - são uma dura realidade para uma parcela crescente da humanidade. E somente uma parte delas é definida pelos genes - o que também não é uma sina, já que você pode descobrir suas tendências genéticas com exames e agir para harmonizá-las. Mas a principal (má) influência em seu desenvolvimento é mesmo ambiental e poderia ser revertida com mudanças no estilo de vida compostas por pequenos gestos diários, capazes de trazer qualidade à rotina e conectar você com seu organismo, localizando pontos de desarmonia. 


Veja só: você já parou para se perguntar qual a relação existente entre um sono de má qualidade e o acúmulo daqueles pneuzinhos na cintura? Ou na relação entre esses incômodos pneuzinhos com uma possível crise cardíaca, que pode interromper bruscamente o curso da sua existência, abreviando uma vida que poderia ser muito mais longeva? Sim, essas relações existem. Um sono ruim desregula os hormônios, dormir tarde leva ao aumento do IMC e favorece o acúmulo de gordura visceral, algo longe de ser somente um problema estético, pois aumenta muito as chances de sofrer um enfarte ou um derrame. 


Tudo em nós está interligado e adotar cuidados básicos com você mesmo em seu dia a dia pode representar a diferença entre seguir (bem) vivo ou ter uma vida abreviada, que, enquanto durar, acabará sendo sem vigor, repleta de remédios paliativos e muito menos potente do que poderia ser. 


Não é muito melhor rever sua rotina quanto às refeições, exercícios físicos e atividades terapêuticas (procurando orientação profissional, se for o caso), do que ficar tomando comprimidos para os sistemas digestivo, endócrino, cardiovascular e neurológico, sofrendo com mil efeitos colaterais?


Pense em um investimento: se você investir sempre um pouquinho, seus recursos vão aumentando. Agora pense numa dívida: se você entrar no vermelho todos os meses, ela vai crescer e se tornar impagável. Assim é também com sua saúde, com a diferença que sua saúde é completamente vital e, sem ela, nenhum tipo de investimento financeiro tem o menor valor. 


Por falar em valores, segundo o World Happiness Report, os maiores índices de bem-estar ocorrem entre os povos nórdicos, como os da Finlândia, Islândia e Dinamarca. E o que faz seus habitantes experimentarem mais felicidade do que as pessoas do restante do planeta é o fato de saberem dar valor ao que realmente importa e não se perderem em distrações ilusórias. 


É como diz um antigo provérbio finlandês: quando você percebe o que é suficiente para você, você se sente feliz. 


Ter amor por si e pelos outros 


Talvez você vá dizer a si mesmo que tem inúmeras responsabilidades. Que tem filhos que precisam de atenção; que está em um relacionamento amoroso delicado; que seus pais são idosos e dependentes; que seu trabalho é extremamente complexo. Também poderá dizer que se dedica a causas sociais importantes e até argumentar que já se sabe que pessoas altruístas costumam ser mais realizadas, já que fazer o bem faz bem. 


Certo, tudo isso pode ser verdade e não dá para ignorar e agir como se você fosse uma folha solta no vento, a ser levada sem rumo nenhum. Reconhecer suas verdadeiras raízes - os laços afetivos com as pessoas mais próximas, a trajetória profissional que você construiu, a missão de vida que você se deu - é fundamental, definindo o que requer realmente o seu cuidado. 


Mas, me diga uma coisa: será que você poderá nutrir essas relações tão especiais se não estiver em seu eixo? Se você não tiver pique para acompanhar as crianças, vai garantir que tenham uma boa formação? Se não tiver força para amparar sua mãe idosa, poderá transmitir a segurança e o carinho que ela espera? E, caso tenha uma séria crise de saúde devido a um estilo de vida que não é saudável, quais serão as consequências para seus familiares? E quem assumirá seus compromissos no trabalho?


Há uma ampla pesquisa sobre a importância do autocuidado na rotina de pessoas que cuidam de outras pessoas ou que têm grandes responsabilidades coletivas. Elas precisam se harmonizar e se fortalecer se quiserem mesmo ajudar individualmente os que estão ao seu redor, bem como contribuir coletivamente com a sociedade, para que esta seja mais equilibrada, mais plena, mais viva.


Cuidar conscientemente de si mesmo não tem nada a ver com egoísmo. É um gesto de amor por você, pelos outros e pelo mundo. E pode começar agora mesmo: que tal dar uma bela espreguiçada, respirando com profundidade e percebendo os pontos do seu corpo que estão tensos, ansiando intensamente por uma atividade que traga bem-estar? 


Quem sabe é o início de uma nova relação entre o você do mundo de fora com o você do mundo de dentro. Sim, sempre é tempo de (se) amar.


Awake. Life is inside.